terça-feira, 7 de setembro de 2010

ELEIÇÃO OU DETERMINISMO

Na lição da Escola Bíblica Dominical de domingo passado, lemos o texto da epístola aos Efésios que diz o seguinte: “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef. 1:4). É evidente que este versículo levanta a questão da doutrina da eleição. Uns vêem esta doutrina como um acto soberano de Deus, ao qual ninguém terá possibilidade de dizer “não”, e que se torna um paradoxo com o livre arbítrio do ser humano. De acordo com esta ideia, que foi desenvolvida por Calvino, as pessoas que Deus escolheu para serem salvas serão salvas quer queiram quer não.
Entretanto tenho acompanhado as minhas leituras com o comentário aos Efésios que Marcus Barth escreveu para a colecção da Anchor Bible, o que me levou a transcrever um trecho das suas reflexões para podermos reflectir também sobre este assunto. Para este texto que citamos acima, ele escreveu um trecho de 4 páginas e meia sobre “Eleição em Cristo versus Determinismo”. Ele começa por apresentar seis razões por que a epístola aos Efésios “não poder ser a carta régia sobre a predestinação eterna de uma parte da humanidade para a bem-aventurança, e a outra parte para o inferno”. (Seria interessante analisar cada uma destas razões, mas o texto tornar-se-ia longo demais. Talvez numa outra oportunidade.) O seu objectivo é demonstrar que a doutrina da eleição é distinta do ensino sobre determinismo. Em seguida, ele apresenta 4 definições para a fórmula “em Cristo” que ele considera fundamental para a interpretação desta doutrina. Por fim ele escreve a sua conclusão do estudo que fez.
“Agora, pode-se chegar à conclusão que se distingue, decisivamente, entre a eleição de Deus, como é louvada em Efésios, e uma crença fatalista num decreto absoluto. Se a pessoa de Jesus Cristo é o objecto e o sujeito primário, o segredo revelado e o instrumento da eleição de Deus, e se ele representa todos os eleitos, então todas as noções de uma vontade, de um testamento, de um plano e de um programa de Deus fixos não são só inadequadas como também contrárias ao sentido de Efésios 1. A eleição não consiste na criação de um esquema que divide a humanidade em dois grupos opostos. Muito mais é aquela ligação de amor de pessoa para pessoa que existe na relação entre Deus e Seus Filho e é revelado somente pelos eventos que manifestam esse relacionamento. Assim, eleição nada tem a ver com uma prescrição ou plano. A eleição de Deus não é um decreto absoluto, mas está relacionado com o Filho, a sua missão, morte e ressurreição. O amor de Deus do Messias não está legislado nem afixado num livro. É um assunto do coração de Deus. Enquanto um esquema ou plano deve ser realizado de acordo com a letra, Jesus Cristo não recebeu uma descrição detalhada do seu trabalho. Pelo contrário, é-lhe dada a responsabilidade de agir livremente naquilo que agrada ao Pai. Para repetir uma observação anterior, um deus que tem destinado cada detalhe antecipadamente pode reformar-se ou morrer. A sua presença já é requerida. Mas o pai que revelará o seu amor e governo através do Filho vigia sobre o Filho, ouve as suas orações, vê a sua agonia, levanta-o dos mortos e derrama o Espírito dado ao Filho sobre muitos. Ele não permite que o sangue do Filho seja derramado em vão. Embora, na forma e substância, a acção de graças de Efésios 1se assemelhe às declarações judaicas (especialmente apocalípticas) contemporâneas, as palavras ‘em Cristo’ e a ênfase colocada na relação de Cristo com Deus e o homem revelam o carácter singular desta proclamação cristã da eleição eterna. O texto de Efésios 1 dá testemunho do Deus vivo, o Pai, o Filho e o Espírito. Tudo o que é dito é pessoal, íntimo e funcional. Um convite ao fatalismo sob o esquema da dupla predestinação ou outro plano determinista não se pode encontrar aqui.”
(Marcus Barth, Ephesians 1-3, vol. 34, The Anchor Bible, New York, Doubleday & Company, 1986, 11ª edição, 105-109)

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