"Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros,
por um maior e mais perfeito tabernáculo,
não feito por mãos, isto é, não desta criação,
nem por sangue de bodes e bezerros,
mas por seu próprio sangue,
entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.
Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha,
esparzida sobre os imundos,
os santificam, quanto à purificação da carne,
quanto mais o sangue de Cristo, que,
pelo Espírito eterno,
se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus,
purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?"
( Hebreus 9:11-14)
Ainda em meados do século XX, os grandes pensadores tinham chegado à conclusão que as grandes ideologias do progresso técnico e as revoluções político-sociais dos finais do século XIX tinham criado apenas uma total desorientação no ser humano. Herbert Marcuse, filósofo alemão, de origem judaica, escreveu um livro intitulado “O Homem Unidimensional”, (1964) onde descreve a existência do homem moderno, argumentando que a sociedade industrial avançada criou falsas necessidades ao ser humano através dos sistemas de produção e consumo. Como resultado, o ser humano passou a viver num universo “unidimensional” tanto de pensamento como de comportamento, em que a aptidão e a capacidade para o pensamento crítico definharam.
Ideologias não faltam, mas não conduzem a lado nenhum. Muitas análises são feitas para se examinar os problemas sociais, mas nenhuma delas apresenta uma solução credível e exequível. Isto fez com que as pessoas andassem em círculos na gaiola do seu planeta porque se esqueceram que podiam levantar os seus olhos para o céu.
Foi por isso que o Ser divino decidiu mostrar ao ser humano que enquanto vive aqui na terra tem algo importante para fazer, que é “servir ao Deus vivo” (v. 14). Foi isto que Jesus Cristo nos veio revelar, demonstrando pela sua vida que há uma nova dimensão a viver. Ainda que alguns pensem que não é possível viver essa nova dimensão, aqueles que a têm vivido sabem que ela é real e não está separada da nossa existência espacio-temporal.
Primeiro, esta nova dimensão manifestou-se no facto de Cristo vir até nós através de um tabernáculo terrivelmente superior (v. 11-12). Os judeus estavam habituados a olhar para o tabernáculo feito pelos homens, no tempo de Moisés e posteriormente, como um sinal da presença de Deus. E a maior parte das vezes confundiam a criação pelo Criador. Agarravam-se ao material e visível. Vivem em função daquilo que é palpável, como se isso lhes desse todas as garantias de um futuro seguro, estável. Mas com a vinda de Cristo, uma nova dimensão se apresentou ao ser humano. A encarnação de Cristo mostra três realidade sublimes, que excedem em muito a realidade terrena. Cristo é o tabernáculo no qual o ser humano deve mover-se e existir. As razões são a sua grandeza (“maior”), a sua qualidade (“mais perfeito”) e a sua concretização (“não feito por mãos”, isto quer dizer “não artificial”). Ainda que Cristo não seja visível neste momento, Ele é uma realidade por aquilo que os apóstolos viveram com ele e pela experiência pessoal e espiritual que cada um de nós pode ter no seu dia a dia. Esta nossa existência terrena é vivida em função de promessas que nos são feitas, mas cerca de 99,9% dessas promessas não se concretizam. No entanto, com Cristo, podemos estar seguros que as promessas do nosso Deus sempre se concretizam. E porquê? Porque Cristo veio a este mundo “fazendo-se carne, e habitando entre nós” (João 1:14) para, depois da sua morte e ressurreição, entrar no verdadeiro santuário, e efetuar a nossa eterna redenção. Nada nos dará uma felicidade genuína e segurança no futuro enquanto não transformarmos a nossa mente e aceitarmos, pela fé esclarecida, esta nova dimensão que Cristo nos quer mostrar e assegurar.
Segundo, esta nova dimensão manifestou-se no facto de Cristo ter dado o seu sangue para nos purificar (v. 13-14). Nos seus rituais religiosos, os judeus usavam o sangue dos touros ou dos bodes e as cinzas de uma novilha para se purificarem. Eles faziam uma distinção entre aquilo que era imundo (a palavra grega significa aquilo que é “comum” ou está “contaminado”) e o que era santificado (a palavra grega também tem o sentido de “separado”). O primeiro pertence à dimensão do terreno, enquanto o segundo diz respeito à dimensão divina. Todo o ser humano anseia por pureza. Por que razão este anseio afeta tanto o ser humano? Em maio de 1781, Immanuel Kant escreveu uma obra intitulada “Crítica da Razão Pura”, onde diferencia dois tipos de conhecimento. Há o conhecimento empírico, relacionado com a perceção dos nossos sentidos, e o conhecimento puro, que não depende dos sentidos nem da experiência, mas é algo que se apresenta “a priori”. Segundo ele, há um conhecimento que está para além da nossa realidade e que se apresenta no seu estado de verdadeira pureza. No entanto, o ser humano continua agarrado ao seu conhecimento empírico, achando que aí encontra a solução para os seus problemas. De acordo com o pensamento bíblico, isso não passa de uma “consciência de obras mortas”, ou melhor, “de um conhecimento partilhado com outro” que resulta em atos que levam à morte. A nossa confiança e esperança naquilo que é material e efémero só pode resultar em morte, porque essas mesmas coisas não têm vida em si. Precisamos de uma purificação, de uma lavagem, que retire tudo o que há de mortífero nas nossas mentes. E Cristo é o único que pode fazer isso. Ele é a nova dimensão que devemos agarrar para encontrar sentido e significado para a nossa vida comum. Na sua humanidade, ele apresentou-se como oferta pessoal a Deus por toda a humanidade, e eu sou um dos beneficiários. A sua entrega é a forma de serviço prestado a Deus. E eu aprendi com ele. A minha vida obteve mais significado a partir do momento em que reconheci que precisava de sair do comum e banal e viver em direção a uma dimensão sublime.
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