terça-feira, 27 de julho de 2010

HOJE, PEDIRÃO A TUA ALMA

O meu amigo Luís Monteiro mostrou-me um pequeno artigo, publicado na revista Sábado, do dia 6 de Agosto de 2009, intitulado “Hipoteca da alma”. Depois de ler o artigo, fiquei a pensar como as pessoas estão tão influenciadas pelo pensamento grego sobre a alma, propagado por Platão, que não sabem o que a Bíblia ensina sobre a mesma.
Parece que em Riga, Letónia, há uma empresa que empresta dinheiro, pouco, entre 70 e 700 euros, mas o cliente assina um contrato onde está explícito que dá, como garantia, a sua alma imortal, caso não pague a dívida. Os líderes das igrejas ortodoxa e luterana parece que ficaram alarmados, porque viram naquela empresa de crédito elementos satânicos. Ora, o problema reside no conceito que se tem da alma.

Oscar Cullmann, teólogo suíço de tradição luterana, publicou um estudo, numa espécie de oferta ao seu amigo Karl Barth, sobre a imortalidade da alma. Na realidade ele questiona se os cristãos acreditam na imortalidade da alma ou na ressurreição dos mortos. Neste opúsculo, ele demonstra que aquilo que a Bíblia ensina é a ressurreição dos mortos e não a imortalidade da alma (www.religion-online.org/showbook.asp?title=1115).

Na realidade não há texto bíblico que fale da imortalidade da alma. Lembro-me da passagem, que só Lucas relata, sobre o rico insensato (Lucas 12:13-21). Depois de muito semear e plantar, tendo recolhido em abundância, este homem fala, por assim dizer, com a sua alma, dizendo-lhe para ela descansar, comer, beber e folgar, porque tinha em depósito muitos bens para muitos anos. Entretanto, “Deus disse-lhe: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?”.

A palavra grega traduzida por “alma” é psuché, que muitas vezes é traduzida também por “vida” (cf. Lucas 12:22-23). Portanto, nem nesta passagem a palavra se refere à parte imaterial, como se fosse a verdadeira essência da pessoa ou, como diziam Sócrates e Platão, a verdadeira pessoa que precisa de se libertar da prisão, que é o corpo. A palavra “alma” engloba toda a pessoa vivente. Já no Antigo Testamento temos este conceito estabelecido. Deus ao criar o ser humano formou-o do pó (corpo) e deu-lhe o fôlego da vida (espírito) e assim surgiu uma alma vivente, isto é, um ser humano (Génesis 2:7). Este rico insensato pensava que era o dono de toda a sua vida. Por isso dizia, para si mesmo (alma): descansa, come, bebe e folga. Certamente que não era a alma, como parte imaterial, que iria comer e beber.

Entretanto, o que nós somos pertence ao Senhor, e é ele que um dia nos tira a vida e deixamos de ser, e tudo o que temos fica. Para quem?

Realmente a nossa alma (vida) está hipotecada quando pensamos nos bens materiais, porque achamos que tudo o que somos e vivemos depende do que temos. A nossa existência não depende só daquilo que comemos ou vestimos. Por isso é que Jesus disse: “A vida (psuché) é mais do que o sustento, e o corpo (sôma) mais do que o vestido” (Lc. 12:23). Há coisas que necessitamos e temos de recorrer, infelizmente, ao crédito, tal como a casa para ter um abrigo, mas não precisamos de estar preocupados com o que havemos de comer ou beber, porque o nosso “Pai sabe que havemos mister delas”. O que precisamos é de demonstrar plena confiança em Deus. Portanto, “buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Lc. 12:31).

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